24 novembro 2002

O que os outros escrevem: Não seja Muggle!




Aviso! Esta crónica da Isabel Stiwell não está transcrita na sua totalidade!

Não seja Muggle !

Os Muggles são aqueles que negam a magia,
os que não vêem,
que não acreditam nem nos sentimentos, nem nas emoções.
Desprezam as lágrimas, a coragem e as varinhas de condão.
Ninguém os convence que as vassouras podem voar,
que há dias em que as estrelas brilham no tecto da sala,
e não concebem que a senhora pintada num quadro
lhes possa dar as boas-noites se estiver para aí virada.

Os Muggles juram que as florestas são fábricas de celulose
e são incapazes de perceber que cada tronco tem vida,
e que escondidos entre a vegetação estão centauros dourados
ou elfos, cuja capa verde se confunde com as ervas.
Vivem a sua vida cinzenta, cheia de leis e regras,
rindo do escarninho de quem diz entender as cobras ou falar serpentês.

Os Muggles são chatos.
Incapazes de entender o segundo sentido de uma graça,
incapazes de se deixarem apanhar por um sorriso inesperado,
ou de se voltarem na rua para falar a quem não conhecem.

São chatos e são tristes.
Não acreditam na magia boa nem na má,
como se uma pudesse existir sem a outra,
como se a vida, o apertar do cinto,
os impostos e os desgostos fossem suportáveis
se não tivéssemos forma de lhes escapar . . .

Os Muggles acham que castelos onde feiticeiros,
que perderam os pais,
lutam contra Aquele de Quem Não se Pode Dizer o Nome,
só existem nos livros e no cinema.
Nos livros e nos cinemas para crianças, bem entendido,
que todos os que continuam a acreditar em Hogwarts,
na Terra do Nunca ou no poder dos anéis,
são imediatamente desclassificados como dementes.

Há Muggles a mais, disso não há dúvida.
Nos governos, na política, no trabalho,
no trânsito, nas caixas dos supermercados.
O receio de que contagiem o mundo inteiro,
e façam desaparecer a pouca magia que lhes resiste, é real.
Combatê-los em todas as frentes é uma missão.
Por isso sempre que passar por um Muggle,
recite alto uma ladainha deste género:
"Acredito no Pai Natal, os meus dentes foram o país dos dentes,
a minha varinha de penas de Fénix pode transformar-te em sapo
e não me apanhas porque vou fazer o IC19 de vassoura".

Vai ver que se sente logo mais feliz.
É esse o poder da magia.


Um Momento com Abrunhosa

Uma espécie de céu,
Um pedaço de mar,
Uma mão que doeu,
Um dia devagar,
Um domingo perfeito,
Uma toalha no chão,
Um caminho cansado,
Um traço de avião
(...)
Pedes-me um momento,
Agarras as palavras.
Escondes-te no tempo
Porque o tempo tem asas.
Levas a cidade
Solta no cabelo,
Perdes-te comigo
Porque o mundo é um momento.
[...].

Isabel Stilwell

24 de Novembro de 2002
Secção Porque hoje é Domingo
Notícias Magazine
Suplemento do jornal Diário de Notícias

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