26 agosto 2006

Colecção de Leituras de Faíza Hayat



Colecção de Leituras de Faíza Hayat


Intrigou-me desde que comecei a ler as suas crónicas. Já lá vão uns quatro anos, talvez. Nessa altura, Faíza falava de um tal Marcelo nas suas "Conversas com o Espelho" e isso chateava-me à brava, porque não percebia nada daquilo. Desde que olhei para a XIS com olhos de ver, nunca mais deixei de comprar o Público ao Sábado, mas recusei-me durante muito tempo a olhar para aquela página pintada de azul esverdeado. O tal Marcelo irritava-me!

Dei-lhe uma segunda oportunidade, incentivada pelas cartas que vão sendo enviadas por leitores fascinados pelas suas palavras que, agora sei, podem ser arrasadoras tanto pela beleza como pela brutalidade das emoções. É poesia escrita em prosa.

As suas crónicas são certamente as mais enigmáticas da imprensa portuguesa. Faíza Hayat, eterna viajante com raízes das arábias, mulher bela que escreve palavras com sabedoria, cheiro, música, cor, sabor, texturas, ... Agora, para além dos textos da página 4 da XiS, leio O Evangelho Segundo a Serpente e descobri quem é afinal Marcelo...


Cito-a:

«Reparem», dizia [sua mãe], «a palavra solidão está cheia de sol!» Gostava [sua mãe] de citar Marguerite Duras: «Não se encontra a solidão. Somo nós que a construímos.» . Citava Pablo Picasso: «Nada pode ser feito sem a solidão [...]. Citava Tchekov: «Se tens medo da solidão então não te cases.»


Mais à frente:

... assim como há sol na palavra solidão, há mel na palavra melancolia.

Identifiquei-me em particular com estas conversas, escritas e leituras:

... fico horas a falar com elas [suas irmãs] e quando desligo já não sei do que falámos. Leio para esquecer. Escrevo para recordar.


Vejam esta ideia extraordinária de devorar a beleza:

Não podendo provar o arco-íris, as estrelas, o lume dos relâmpagos, as nuvens rubras, contaminadas pela luz melancólica dos crepúsculos - comia flores.

8 Diálogos ensonados:

Blogger Miss Kin Disse...

Já li o livro e há tb umas quantas ideias com q me identifique e umas tiradas de escrita, mto boas, mas no seu geral a história do livro achei, como hei-de explicar... Penso q "cheia de nada", é a expressão q me ocorre.
Mesmo assim, gostei de o ler.

20:39  
Anonymous Anónimo Disse...

Faíza Hayat, foi-me apresentada num sabado, pela Xis ...
Não gostei muito dela, quer dizer ... de vez enquanto lá vou encontrando uma cronica qu me identifique ... mas é raro !
Não poderia negar que é uma mulher muito culta, com o seu proprio estilo de escrita, teve coragem para ser diferente .. se calhar o problema sou eu ...
Ana

22:01  
Anonymous Anónimo Disse...

Dkin, talvez a história seja "cheia de nada", mas a escrita dela pode ser "cheia de tudo". Só há outro autor que me faz sentir o mesmo: Pedro Paixão. É outro cheio de enigmas, diferentes de Faíza, muito muito diferente, mas há ali qualquer coisa comum na escrita dos dois.

Ana, acho que o estilo de Faíza, tal como o de PP, ou se ama ou se odeia e não há cá intermeios... E qual é o problema em não se gostar?...

Obrigada pela visita!

P.S. Ana, como é que descobriu este blog?

00:01  
Anonymous Anónimo Disse...

Estou encantada com o estilo de Faíza. Leitora brasileira, não conhecia a moça até ler o livro, que foi lançado aqui no final do ano passado. Seus textos são embriagantes, envolventes. Ela se revela através das palavras, ficcionaliza a sua existência. E minha grande dúvida: até que ponto é ficção? qual é o limite? ele existe?

21:01  
Anonymous Anónimo Disse...

Começo a gostar realmente de ter internet.

Gosto do Público, acho até que foi em 1998, ou 1999 o primeiro ano da edição da revista Xis, e simpatizei logo ali... Passaram-se anos e anos, e foi há relativamente pouco tempo que me deparei com a Faíza Hayat pela Xis e foi paixão no momento.
e ainda não li o livro. mas é um dos meus favoritos.
Pedro Paixão, tenho Barely Legal, é fenomenal.
;-)

01:50  
Anonymous Anónimo Disse...

É realmente uma tristeza que a XiS tenha acabado e que o Público já não seja o que foi...

A Faíza lá continua na Pública, desta vez de costas para os leitores... O grande enigma...

Não conheço Barely Legal

23:19  
Blogger Unknown Disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

23:26  
Blogger Unknown Disse...

Há poucos dias ao entrar numa sanduicheria às 6 da tarde para finalmente tentar acalmar o estômago de quem não almoçou, o meu olhar foi raptado por uma bancada de livros em promoção e ao acaso pego um, pego outro e por baixo descubro uma capa que me cativou. Não fazia idéia de quem seria Faíza Hayat, mas depois de apresentada por Mia Couto, vou direto à primeira página. Acabou-se a minha liberdade. Já estava preso ao enigma da serpente, à trama entre Faíza e Marcelo.
Foi a mais fantástica surpresa de um autor de língua portuguesa dos últimos anos.
Francisco Amorim

23:34  

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