07 março 2003

O que outros escrevem: A luz irrompe onde nenhum sol brilha



A luz irrompe onde nenhum sol brilha


A luz irrompe onde nenhum sol brilha
onde não se agita qualquer mar, as águas do coração
impelem as marés [...]

A luz irrompe em lugares estranhos
nos espinhos do pensamento
onde o seu aroma paira sob a chuva
quando a lógica morre
o segredo da terra cresce em cada olhar
e o sangue precipita-se no sol
sobre os campos mais desolados,
detém-se o amanhecer.

Dylan Thomas (1914-1953) A MÃO AO ASSINAR O PAPEL

O sol está onde o Homem quiser!
Mesmo que não se veja podemos sempre carregá-lo connosco!

05 março 2003

Memórias no meu Estendal



Memórias no meu Estendal


Estão a ver aquelas molas de madeira ENORMES,
que se usavam para estender a roupa,
há muitos muitos anos ?
Aquelas do século XIX,
em tempos que os estendais eram
feitos de verdadeiras cordas grossas
que hoje já nem se usam,
pois apodrecem com a humidade.



Algumas das minhas memórias estão presas num desses estendais
por molas muito antigas.
Tantas vezes me pergunto se as molas não estarão já completamente podres.


Nós, seres humanos,
temos esta incrível capacidade
de descartarmos dos nossos cérebros
memórias de que não nos queremos mais lembrar.


Ultimamente me pergunto se não faremos mal
em querermos descartarmo-nos delas.
Os Portugueses são conhecidos pela sua memória cada vez mais curta.
São conhecidos entre os Portugueses...
Não tenho a certeza se os outros povos
não fazem exactamente o mesmo.


As molas de madeira já gasta são a nostalgia
que noutros tempos não me deixou viver em Liberdade Interior.
As memória, a minha prisão.
Queria apenas viver delas, para elas, em nome delas.


Viver o presente e sonhar o futuro
caíram no buraco fundo do esquecimento.
Aprisionei-me no meu próprio e tão querido estendal .


... Chove lá fora ...
Há muito que já não chovia...
se calhar não há assim tanto....
Eu, com a minha memória curta portuguesa,
é que já não me lembro
da última vez que choveu.

As memórias do passado são fios da teia
para viver o presente e sonhar o futuro,
desde que - claro! -
não fiquemos presos nela
e que não nos deixemos ser lentamente digeridos pela aranha.

2003