Uma cidade que chora
Uma cidade que chora
Folhas amarelas banham a calçada escura e os relvados da praça. De um lado, a esplanada "Coreto" já dorme de luzes apagadas, entre dois lagos. Mais adiante descubro uma placa. Lê-se ali: "Heróicos companheiros do General Gomes Freire de Andrade homenageados por defenderem a liberdade e a integridade da pátria". Do outro lado, uma estátua homenageia um médico do século XIX, que dedicou a sua vida à vida dos outros e à luta contra a doença.
Todos os dias, inúmeras pessoas passam ali para lhe prestar homenagem. Aos seus pés ergue-se uma personagem que o acompanhou nos últimos dias, explica uma vendedora de velas. "Dizem as más línguas que era sua amante", conta a mulher ofendida com a infâmia.
Em redor do médico, um amontoado de placas forma um depósito desgovernado de homenagens e agradecimentos ao santo. Em frente da estátua da mulher, a vendedora tenta convencer os transeuntes a comprarem velas.
Está uma noite de Outono amena. Um pato preto e branco levanta o pescoço quando me aproximo. Um grupo de três homens com ar alucinado sentam-se à mesa de jogo. O ruído da fila interminável de automóveis não deixa ouvir o silêncio das lágrimas das árvores, erguidas dos relvados.
No meio do jardim, por entre a folhagem, um homem de sobretudo parece declamar poemas às árvores. Um gato negro espreita-me, desconfiado, junto às raízes de uma enorme Ficus, uma espécie de figueira. Não há o silêncio dos bosques. Os bebedouros desperdiçam água. O inferno dos carros não cessa...
Todos os dias, inúmeras pessoas passam ali para lhe prestar homenagem. Aos seus pés ergue-se uma personagem que o acompanhou nos últimos dias, explica uma vendedora de velas. "Dizem as más línguas que era sua amante", conta a mulher ofendida com a infâmia.
Em redor do médico, um amontoado de placas forma um depósito desgovernado de homenagens e agradecimentos ao santo. Em frente da estátua da mulher, a vendedora tenta convencer os transeuntes a comprarem velas.
Está uma noite de Outono amena. Um pato preto e branco levanta o pescoço quando me aproximo. Um grupo de três homens com ar alucinado sentam-se à mesa de jogo. O ruído da fila interminável de automóveis não deixa ouvir o silêncio das lágrimas das árvores, erguidas dos relvados.
No meio do jardim, por entre a folhagem, um homem de sobretudo parece declamar poemas às árvores. Um gato negro espreita-me, desconfiado, junto às raízes de uma enorme Ficus, uma espécie de figueira. Não há o silêncio dos bosques. Os bebedouros desperdiçam água. O inferno dos carros não cessa...
Algures num Jardim de Lisboa, Janeiro de 2006