02 abril 2003

Aprender a viajar no meu quintal



Aprender a viajar no meu quintal


Estou a aprender a viajar algures
aqui no meu Quintal...

Aprendo constantemente a viajar no laranjal da minha mente...

As raízes,
neurónios entrelaçados e complexos,
transbordantes de informações,
tantas vezes baralhadas,
que viajam em saltos eléctricos
recheados de uma, muitas vezes, excessiva e esgotante energia.

Tento árdua e insistentemente descodificá-las.

Ao invés de em tempos dolorosos
viajo agora mais facilmente na minha floreira de túlipas coloridas,
que Amo muito...

Apesar das óbvias dificuldades com que me deparo...

Neste meu Quintal farejo constantemente o chão onde viajo.
Mesmo que já por lá tenha passado
farejo incessantemente toda a terra que piso.

Não me quero surpreender... Não gosto de más surpresas!

Remexo o solo,
perco-me em novas adaptações ,
re-arrumo o meu quintal
e continuo a farejar , a farejar!

Um dos cantos preferidos do meu Quintal tem correntes salobras e salgadas
que banham a areia das praias Arelhenses.

Nestas varandas da Foz,
fonte de inspiração,
viajo pelo meu Quintal...
Nesta serenidade não encontrada em nenhum outro canto...
Viajo dentro de mim.
Tento entrar... ou antes... imaginar
as viagens que outros fazem dentro deles próprios.

Agora,
neste momento desta pseudo-bonanza interior
viajo pela Grande Viagem da Biologia,
pelo Conhecimento, colegas, conhecidos,
Amigos e Família,
pelos que têm cruzado de alguma forma,
em algum momento a minha viagem.
Busco na compreensão dos outros as minhas mais intimas raízes,
escondidas no mais fundo solo escondido.

Viajo no meu Quintal...
Hoje reorganizo, limpo, arrumo...
Volto a reorganizar, limpar, arrumar...


Posso estar onde estiver,
mas estou nesta constante tentativa de busca para perceber
que importância relativa tiveram as túlipas
que cruzaram esta viagem,
que de alguma forma percorreram ou percorrem passos comuns aos meus,
neste que é o pedaço comum do nosso Quintal.

Não sei para onde caminho...
Deixou de ser assim tão importante
ter que saber paranoicamente os caminhos...


Diz Abel Neves muito sabiamente:
Não há caminhos, há que caminhar

Tenho aprendido a saborear cada caminho,
explorar um de cada vez,
apesar de muitas vezes ainda não o conseguir.

É muito difícil não se criarem expectativas!

Claro que tenho sonhos que quero atingir,
as minhas nuvens fofas onde preferia passar a dormir .

Mas contento-me com o facto de acreditar
que sou hoje mais feliz que nunca,
embora os dias muitos tristes existam.
Nesses dias,
deixei-me perder no meu quintal!



Perco-me nas minhas duvidas e incertezas !

Deixo-me invadir pelo medo !

É difícil não esperar nada de quem se ama !

Não é ?

Por muito que me esforce
cada vez é mais difícil imaginar
que um dia podes deixar de estar aí,
algures onde não te possa ver,
onde não possa sentir a tua presença,
onde não te possa provocar,
arreliar , desafiar e chocalhar esses neurónios lindos !

Não sei como tens paciência
para a minha impaciência .
Gostava que me conseguisses acompanhar
mais depressa !

Não sei para quê !

É este meu feitio insuportável de querer tudo a correr,
quando , para além do mais,
sei perfeitamente que adoro desafios,
e quando sei perfeitamente
que quem tem que acompanhar
quem não anda tão rápido sou eu .

Sou impaciente !
Sabes que sou !

Tento controlar-me mas tenho dificuldade.

É uma grande arrogância estar para aqui
a dizer quando , muitas vezes,
deixo de ter forças para acompanhar o ritmo de outros,
porque estou física e emocionalmente extenuada .

Às tantas fico com medo que um dia te fartes de vez
do meu mau feitio , dos meus descontrolos !

Tenho medo que este gostar...
Tu sabes...
aquele especial que nunca me tinha acontecido assim
como desta vez !

Estou diferente...
Tento reajustar-me
para conseguir lidar com esta minha nova condição
de compromisso para com os meus sentimentos.

Tenho medo quando chegas tarde,
porque por vezes é quase insuportável
lidar com o silêncio imposto
e ficar eternamente sem saber o que se passou.

Tenho muita dificuldade em lidar com aquilo que não compreendo !

Ainda não sabes isso,
mas vais descobrindo aos poucos.
Tal como eu vou descobrindo o teu quintal aos poucos.

Tu gostas mais assim aos poucos
e eu embora sempre com tentações de correrias
também é do que gosto,
aos poucos , com muita calma , saboreando cada momento !

Queria tanto que fosses tu !
Por favor deus !
Faz com que sejas tu !
Dá-me aquele gostinho de serenidade !

Apesar de não ter tido espaço temporal para mim,
sozinha .

Estou-me a reajustar a esta minha nova condição
e quando estou contigo sinto aquela serenidade
mesmo quando estou muito irritada ou muito triste !

Tu sabes !

Fizeste-me deixar de sentir tão só
em alguns dos nossos pontos comuns !

Tu sabes quais são . . .

E também quão eles são importantes !