30 novembro 2004

Perdida, aquela mulher que fumava cachimbo



Perdida, aquela mulher que fumava cachimbo


Perdida nos seus pensamentos ela olhava sem ver...
Perdida no espaço negro que envolvia a sua mente, não via.

Perdia a paisagem azul cinza...
Perdia a barcaça à vela serena.


Navegava em imagens deambulantes dentro de si, uma e outra,
e outra ainda... Imagens frenéticas.
Navegava nas ondas de fumo do seu cachimbo, esculpido por Pierre.
Afastava-as para de imediato mergulhar naquele emaranhado
de figuras castradoras.

Quanto maior a ânsia de liberdade, mais se emaranhava nelas...
Quanto maior o desejo de liberdade, maior a prisão
da sua vida exasperante.

As gaivotas pairavam sobre a água espelhada do Leman.

Totalmente alheada ao cenário idílico do lago,
Anne Marie baloiçava-se numa velha cadeira de baloiço
da varanda da mansão de Vevey.
Pierre talhara aquele cachimbo com todo o amor que por ela sentia.
Anne Marie odiava o cheiro de cigarro.
E ele sabia-o. Talhou o cachimbo na esperança de lhe agradar.

Anne Marie já não se contentava com nada…
Não sabia o que sentia… já nem sabia quem era…
Não sabia já nada…

Horas e horas passadas naquela varanda à procura de algo
que não sabia o que era… Perdera o seu caminho,
perdera Pierre para sempre.

Ele partiu desesperado por não compreender Anne Marie,
por não compreender a sua melancolia caótica.
Partiu desesperado para não ser engolido pelo desespero dela…
Pierre foi, sabendo que nunca mais iria saber dela.

A Anne só já restava um elegante gato negro deitado a seus pés.
Dizem que os gatos sentem a angústia…
François, o gato, era o único motivo que a agarrava aquela varanda…

Já estivera mais longe de se lançar no voo final…
em busca da ansiada LIBERDADE…


Será que a encontrou?


Insónias para Escreva! - Desafio do mês: Descrição de uma cena com as palavras

"Ela", "Cigarro" e "Gato".
30 Novembro 2004