Perdida, aquela mulher que fumava cachimbo
Perdida, aquela mulher que fumava cachimbo
Perdida nos seus pensamentos ela olhava sem ver...
Perdida no espaço negro que envolvia a sua mente, não via.
Perdia a paisagem azul cinza...
Perdia a barcaça à vela serena.
Navegava em imagens deambulantes dentro de si, uma e outra,
e outra ainda... Imagens frenéticas.
Navegava nas ondas de fumo do seu cachimbo, esculpido por Pierre.
Afastava-as para de imediato mergulhar naquele emaranhado
de figuras castradoras.
Quanto maior a ânsia de liberdade, mais se emaranhava nelas...
Quanto maior o desejo de liberdade, maior a prisão
da sua vida exasperante.
As gaivotas pairavam sobre a água espelhada do Leman.
Totalmente alheada ao cenário idílico do lago,
Anne Marie baloiçava-se numa velha cadeira de baloiço
da varanda da mansão de Vevey.
Pierre talhara aquele cachimbo com todo o amor que por ela sentia.
Anne Marie odiava o cheiro de cigarro.
E ele sabia-o. Talhou o cachimbo na esperança de lhe agradar.
Anne Marie já não se contentava com nada…
Não sabia o que sentia… já nem sabia quem era…
Não sabia já nada…
Horas e horas passadas naquela varanda à procura de algo
que não sabia o que era… Perdera o seu caminho,
perdera Pierre para sempre.
Ele partiu desesperado por não compreender Anne Marie,
por não compreender a sua melancolia caótica.
Partiu desesperado para não ser engolido pelo desespero dela…
Pierre foi, sabendo que nunca mais iria saber dela.
A Anne só já restava um elegante gato negro deitado a seus pés.
Dizem que os gatos sentem a angústia…
François, o gato, era o único motivo que a agarrava aquela varanda…
Já estivera mais longe de se lançar no voo final…
em busca da ansiada LIBERDADE…
Será que a encontrou?
Insónias para Escreva! - Desafio do mês: Descrição de uma cena com as palavras
"Ela", "Cigarro" e "Gato".
30 Novembro 2004