26 novembro 2002

Aparente vazio



Aparente vazio


Muitas palavras são um vazio aparente,
mas no fim ... no fim
não são um verdadeiro vazio.
São um vazio aparente.

Novembro 2002



Aparente vazio



As palavras são como os sentimentos.
Muitas são um vazio aparente,
mas no fim ... no fim
não são um verdadeiro vazio.
São um vazio aparente.


Janeiro 2003

24 novembro 2002

O que os outros escrevem: Não seja Muggle!




Aviso! Esta crónica da Isabel Stiwell não está transcrita na sua totalidade!

Não seja Muggle !

Os Muggles são aqueles que negam a magia,
os que não vêem,
que não acreditam nem nos sentimentos, nem nas emoções.
Desprezam as lágrimas, a coragem e as varinhas de condão.
Ninguém os convence que as vassouras podem voar,
que há dias em que as estrelas brilham no tecto da sala,
e não concebem que a senhora pintada num quadro
lhes possa dar as boas-noites se estiver para aí virada.

Os Muggles juram que as florestas são fábricas de celulose
e são incapazes de perceber que cada tronco tem vida,
e que escondidos entre a vegetação estão centauros dourados
ou elfos, cuja capa verde se confunde com as ervas.
Vivem a sua vida cinzenta, cheia de leis e regras,
rindo do escarninho de quem diz entender as cobras ou falar serpentês.

Os Muggles são chatos.
Incapazes de entender o segundo sentido de uma graça,
incapazes de se deixarem apanhar por um sorriso inesperado,
ou de se voltarem na rua para falar a quem não conhecem.

São chatos e são tristes.
Não acreditam na magia boa nem na má,
como se uma pudesse existir sem a outra,
como se a vida, o apertar do cinto,
os impostos e os desgostos fossem suportáveis
se não tivéssemos forma de lhes escapar . . .

Os Muggles acham que castelos onde feiticeiros,
que perderam os pais,
lutam contra Aquele de Quem Não se Pode Dizer o Nome,
só existem nos livros e no cinema.
Nos livros e nos cinemas para crianças, bem entendido,
que todos os que continuam a acreditar em Hogwarts,
na Terra do Nunca ou no poder dos anéis,
são imediatamente desclassificados como dementes.

Há Muggles a mais, disso não há dúvida.
Nos governos, na política, no trabalho,
no trânsito, nas caixas dos supermercados.
O receio de que contagiem o mundo inteiro,
e façam desaparecer a pouca magia que lhes resiste, é real.
Combatê-los em todas as frentes é uma missão.
Por isso sempre que passar por um Muggle,
recite alto uma ladainha deste género:
"Acredito no Pai Natal, os meus dentes foram o país dos dentes,
a minha varinha de penas de Fénix pode transformar-te em sapo
e não me apanhas porque vou fazer o IC19 de vassoura".

Vai ver que se sente logo mais feliz.
É esse o poder da magia.


Um Momento com Abrunhosa

Uma espécie de céu,
Um pedaço de mar,
Uma mão que doeu,
Um dia devagar,
Um domingo perfeito,
Uma toalha no chão,
Um caminho cansado,
Um traço de avião
(...)
Pedes-me um momento,
Agarras as palavras.
Escondes-te no tempo
Porque o tempo tem asas.
Levas a cidade
Solta no cabelo,
Perdes-te comigo
Porque o mundo é um momento.
[...].

Isabel Stilwell

24 de Novembro de 2002
Secção Porque hoje é Domingo
Notícias Magazine
Suplemento do jornal Diário de Notícias

17 novembro 2002

Aparente vazio



Aparente vazio


Muitas palavras são um vazio aparente,
mas no fim ... no fim
não são um verdadeiro vazio.
São um vazio aparente.

Novembro 2002



Aparente vazio



As palavras são como os sentimentos.
Muitas são um vazio aparente,
mas no fim ... no fim
não são um verdadeiro vazio.
São um vazio aparente.


Janeiro 2003

16 novembro 2002

O que os outros escrevem: A Poesia pede livros portáteis


A Poesia pede livros portáteis


[...]

Tempos houve,
não tão distantes assim,
em que a poesia era publicada em pequenos volumes,
quase tabuinhas de leitura breve,
muito intensa.

O leitor de poesia pede livros portáteis
(mas não descartáveis!)
que possa levar consigo.
O tijolo de muita poesia completa ou reunida de hoje,
pelo contrário,
é demasiado pesado,
amedronta e não se pode meter no bolso para ler,
não digo já no remauso do eléctrico,
mas pelo menos no metro.

[...]

Obras - João Barrento
A Quatro Mãos - Público
16 Novembro 2002


15 novembro 2002

Afinal o Pai Natal Existe!



Afinal o Pai Natal Existe!




As “conversas” que eu tenho comigo e com deus,
mais própria e adequadamente chamados delírios interiores,
têm primeiro a ver com o facto
de estar a pensar que me apetecia apaixonar-me
louca e perdidamente por alguém
e que claro essa paixão fosse mutua!

Mas com este meu feitio insuportável
logo a seguir pensei racionalmente: para quê? PARA QUÊ?

Na verdade não me quero apaixonar perdidamente.
As paixões são “sol de pouca dura”.

O que eu quero é amar profundamente alguém
que preencha a parte de mim
que não está preenchida pelas leituras, a fotografia e outras paixões...
Que me ame com todas as minhas qualidades e defeitos!
Que suporte as minhas crises de Iritex!
Que suporte o meu stress insuportável
quando estou à beira de uma “congestão nervosa”!
Que suporte a minha capacidade inacreditável de sonhar!
SIM! Eu tenho uma grande capacidade de sonhar!
É por esse motivo que não quero perder a minha preciosa ingenuidade!
Se a perco,
perco a pouca fé que me resta no ser humano!


Sim! É mesmo verdade!
É! É! Eu acredito mesmo que o Pai Natal existe!

Existe se as pessoas quiserem que ele exista!
Ainda existem pessoas que querem saber, que se preocupam!
Essas pessoas também têm alguma ingenuidade,
são as sonhadoras!

O Pai Natal,
existe dentro de cada um de nós!

Mas só se nós deixarmos que ele exista!

O mais interessante é que não sei quem és...
Mas, sei quem gostava que fosses...

Isto não é assim muito saudável,
estar assim a imaginar uma pessoa que se imagina ser perfeita para amar...

Talvez o Pai Natal me venha a provar que existe mesmo!



Por volta de Novembro de 2002

12 novembro 2002

Estás a ouvir? Estou a falar contigo!!!



Nós, os cinco dedos de uma mão e um espelho em pedaços



Olha . . . olha lá ! ! !
Estou a falar contigo . . .
Porque é que tu não ouves ?
Porque é que TU não TE ouves ?


O que importa não é ouvires-me !
Isso pouco importa !
Surpreendido ?
Não sei porquê !
Já me conheces há tantos anos e ainda surpreso . . . ? !

Porque é que TU não TE ouves ?
Porque é que tens tanto medo de ouvires o teu coração ?
Porque é que finges que não tens sentimentos ?
PORQUÊ ? ? ! ! ?

Porquê que finges que não sentes nada ?
Há anos que o fazes !
Não estás farto ?
Eu estou ! ! ! ! ! !

Ouviste ? ? ? Estás a OUVIR ?
Estou farta !
Estou farta que finjas !
Estou farta dos teus teatros !
Estou farta das tuas mentiras !

Não sei se estás a perceber que não é a nós que estás a mentir !
É a Ti !
Tu queres desesperadamente
acreditar nos disparates todos que dizes !


Não vês ?
Para além de surdo também és cego ?
" O pior cego é aquele que não quer ver ! "
Não sei se já tinhas ouvido esta frase cheia de sabedoria ?


Não !
Tu não precisas de abrir os olhos . . .
Tu não tens os olhos cegos . . .
Tens a alma escura ... quase negra . . .
Se não fazes nada rapidamente, não vais a tempo . . .
Precisas . . . é de abrir a ALMA !
Despacha-te !
Abre a ALMA . . . Vá !
Porque é que não tens coragem ?
Vá ! TU ÉS CAPAZ !
No fundo . . . tento acreditar que TU ÉS CAPAZ !


Não vês que te estás a perder de ti próprio ?
Não vês que estás a perder
. . . talvez . . .
os melhores anos da tua vida ?
Não percas tempo . . . não sabes se o tens amanhã . . .


Tens tanto medo de morrer ,
mas não tens medo de perder tempo . . . assim . . .


Estas palavras parecem-me tão vazias de sentido ,
porque no fundo sei que tu não me ouves . . .
porque no fundo sei que tu não te ouves . . .
porque no fundo sei que deixaste de te ouvir há muito . . .
Será que alguma te ouviste ?
Porque no fundo . . . bem lá no fundo . . .
perdi a esperança que ouças o teu mais profundo TU !


Sinto um vazio de sentido nas minhas próprias palavras . . .
É quase insuportável . . .
Estou triste . . .
. . . por cada vez mais constatar que estás cada vez mais . . .
. . . mais longe de te encontrares contigo . . .

Este é um vazio cheio de palavras . . .
. . . não . . . não é assim . . .
Estas são palavras cheias de vazio . . .
Estou triste . . .



Novembro de 2002



Pensava ter-te deitado fora



Pensava ter-te deitado fora




Já não estás aqui ...
Porquê ...? Não sei ...

A vida é assim.

Foste para longe há tantos anos.
Fiz desaparecer as tuas fotografias,
fiz-te desaparecer fisicamente.
Queria-te ausente ...

Deitei-te fora em desespero.
Queria ter-te deitado fora,
quero deitar-te fora,
mas não me deixas ...

DEIXA-ME! DEIXA-ME! DEIXA-ME!

Tenho que ir ... tenho que ir viver a minha vida!

Sem ti!

Antes ... muito antes de te querer deitar fora,
deitámo-nos fora um ao outro!

Desapareceste ... Agora é tarde demais!

Não soubeste quem eu era ...
Não soube quem tu eras ...
Não sabíamos quem éramos ...

Como podíamos amar-nos assim?
Sem nos conhecermos?

Como?

Como podem dois seres humanos amarem-se, assim?
Sem se conhecerem...

Não fizeste um esforço (que eu visse) para me descobrires!
Não o fizeste para te descobrires ...
muito menos o farias para nos descobrires aos dois!

Fizeste?
Não, não fizeste.

Vês?!
Raios!!

Acho que no fundo não querias que eu fosse assim ...

Amaste-me?

Eu sei que te amei ...
Não me consigo lembrar ...
mas sei que te amei algures no tempo ...

Perdoa-me, mas queria ainda amar-te ...
receio que já não ... receio que só me reste a mágoa de te ter odiado,
de esperar que esse ódio desapareça...
e que finalmente se abra um espaço para AMAR ...


12 Novembro 2002

07 novembro 2002

Nós, os cinco dedos de uma mão e um espelho em pedaços



Nós, os cinco dedos de uma mão e um espelho em pedaços




Olá P.!

Sabes, porque é que és P.?
Lembras-te?
Claro que te lembras!
É apenas uma maneira de o manter vivo,
de entre não muito boas memórias!

E eu nem sequer acho que tenhas cara de P.,
mas insisto em chamar-te assim
para não deixar morrer o que já não existe.

No fim,
não queria que já não existisse…

1 e 30 da manhã . . .
a insónia não me deixa . . .
nem tão pouco a memória !


. . . uns caracóis alourados . . .
Tu, muito pequenita . . .

Eu muito pequenita .

Tu nunca foste pequenita . . . ou foste ?
E eu . . . ? Fui . . . ?
Alguma vez deixei de ser . . . ?

Talvez não me lembre exactamente de ti.
Talvez guarde os teus caracóis
e a tua cara muito bolachuda
nas poucas memórias que tenho daquele tempo .
Talvez agora elas sejam uma mistura das memórias
e de uma ou duas fotografias tuas .

– Tu já não tens a cara redonda!
E és tudo menos pequena !
– Eu ainda tenho a cara redonda !
E, também, sou tudo menos pequena !


Nem meia dúzia de anos tínhamos , lembras-te ?

Não ,
dizes que não !
Que não te lembras de ti antes de NÓS existirmos . . .

Faz-me confusão que não te lembres do antes desse NÓS . . .
tão familiar !

Ainda hoje ,
passada mais de metade das nossas vidas, de termos “nascido”
e de terem passados momentos tão bons . . . e tão maus ,
o NÓS me faz sorrir .

O NÓS ,
apesar de tudo ,
traz-me o sorriso de garota
que fui noutros tempos que jamais voltarão .

Sabes a sorte que temos de nos termos tido uns aos outros . . .
assim . . .
naqueles que foram provavelmente os melhores anos da minha vida ?

Sabemos as duas ! Saberão os restantes ?

Uma amizade como aquela
só pode existir quando se é adolescente ,
se tem uma enorme capacidade de sonhar ,
quando se têm os livros dos “Cinco” na cabeça
e se tem a ingenuidade de querer o mesmo
– quero dizer . . . – de querer mais !


Somos o que somos, porque crescemos juntos !
Somos, e temos, uma pequenina parte uns dos outros .
E sabes que mais ?
As únicas pessoas capazes de nos “roubar” isso somos nós mesmos ,
se deixarmos !
Só se deixarmos !

Estive a pensar . . .
Sabes qual foi . . . é . . . o ponto comum a todos ?

Os sonhos !
Somos uns sonhadores !
Por isso é que continuamos ,
por vezes ,
a ser uns miúdos de vinte e tal anos .


Quando não fomos capazes de concretizar alguns dos nossos sonhos ,
perdemo-nos de nós próprios .
Sentimo-nos esmagados pelas altas fasquias que nos impusemos !

Sempre fomos muito exigentes em relação uns aos outros
e em relação a nós mesmos .
Muitas vezes, demais !
E não fomos capazes de lidar com isso .

Esta mania de querermos ser perfeitos ! Uff !
Como se isso tivesse alguma graça !

Eu sei ! Eu sei !
Uns mais que outros !
Mas , isso é como em tudo . . .

E somos quem somos .
Olha que afinal ,
não nos saímos assim tão mal !


Alguns desses sonhos não passaram a ser reais ,
porque ainda vão acontecer . . .
mais tarde . . .
quando já tivermos maturidade para lidar eles .
Ou simplesmente ,
não vão acontecer ,
porque outras coisas inesperadas estão guardadas à nossa espera
no futuro !

E novos sonhos virão ,
certamente serão ,
como de costume ,
fasquias altas a ultrapassar ,
porque continuamos a ser sonhadores e isso é que nos mantém vivos .

Provavelmente ,
foi isso que nos fez ,
que nos faz ,
que nos fará diferentes . . .

– Fomos . . . Somos tão estranhamente diferentes
e por vezes é tão difícil viver com isso !

. . . apesar de se ter perdido o NÓS . . .
ou se terem perdido os CINCO dedos da mão ,
ficaram os cacos do ESPELHO . . . separados ,
mas ficaram . . .


Estamos cá todos ,
diferentes ,
talvez demasiado diferentes ,
irremediavelmente diferentes ,
mas ESTAMOS ,
porque temos mais de uma década de vida em comum
e nenhum de nós se esquece disso .

Vai ficar connosco para sempre ,
e talvez . . . ,
passe para a geração que aí vem !

Isso só depende de NÓS !


“Só morremos quando a última pessoa que nos conheceu morrer .”

(não sei quem disse isto !)


Para sempre

T.


Novembro de 2002

P.S. Escrevi esta carta na madrugada
antes de me acontecer um inesperado
que me iria provar que o futuro
nos traz as mais variadas surpresas !
Pode ser que as surpresas que aconteceram na manhã
e na tarde seguintes vão muito mais longe
do que eu sou capaz de sonhar ! : )