22 outubro 2006

Chove na Foz, chove-me na alma


Chove na Foz, chove-me na alma


Chove tanto aqui na Foz.

Ontem estava um bocadinho como o clima. Para piorar tudo, deixei cair o "Mil Folhas" e não dei por nada. Quando voltei ao local, as folhas de jornal de que mais gosto estavam presas debaixo do pneu de um BMW prateado. Lá ficaram...

À tarde, perdi-me em recordações. Revi-te em fotos, revi momentos. Relembrei-me que nem todos os que se amam podem partilhar uma vida em comum. Ou porque não aprenderam a respeitar os espaços próprios, ou porque estão rodeados de preconceitos inultrapassáveis (muitos) sobre as famílias de ambas as partes e a forma como deverão ou não lidar com elas. E porque se pode tornar numa guerra interna todos os dias.

Hoje chorei a relembrar as fotografias que revi ontem. Hoje deixei-me levar nas lágrimas pelo medo de me deixar ir assim outra vez. Talvez tenha medo de ouvir que Não. Talvez não me sinta com forças para confrontações com os meus medos e fantasmas.

Lembrei-me como me deixei dormir nos teus braços, noites inteiras. Por que é que os abraços afastam os fantasmas e nos embalam no sono?


Não fui capaz de deixar as tuas fotos e trouxe-te comigo para o meu quarto novo. Estás lá com os teus R. e o P., estão lá o Tó e o Tobias. Estão lá todos, em vossa homenagem, para me lembrar que foram a minha família durante muito tempo. Triste é pensar que só ficou o P. É um triste balanço. Está muito bonito o P.



15 outubro 2006

Almoço de família e compras de miúdas



Almoço de família e compras de miúdas


Era Sábado. A minha mãe telefonou-me:

Vamos almoçar à Milú e não há comer que chegue para todos! – Se isto é normal?! Eu achei que sim!
– Tá bem! Então, vou lá ter depois de almoço.

Ainda era Sábado. Telefonou-me a Milú:

– Vens amanhã almoçar cá a casa.
– Vou às 2h.
– Não! Vens almoçar connosco.
– Está bem. Estou aí à 1h.

Foi Domingo. Vi-me a chegar primeiro que todos e até a surpresa da chegada dos meus primos mais novos a chegarem com os pais e com pampilhos de Cantanhede! A seguir vi um prato Enorme de carne de borrego assado no forno com batatas fritas e salada, salada de frutas e um enorme abacaxi… Hummm!

- Não vai chegar para todos! - diziam...

Claro que ainda sobrou um único naco de carne ridículo, abacaxi e salada de frutas com fartura. Nesta família é sempre assim. Quando é “pouco” sobra sempre.


Conversas à Mesa

Tagarelámos à mesa sobre coisas de família e para não variar fomos parar a temas pouco ortodoxos para um almoço. A primeira cena do filme do Almodóvar, "Volver", levou-nos aos cemitérios e à campa da família. Conversas estranhas para se terem à refeição, pensarão muitos. Este tipo de temas são debatidos com muita abundância nos nossos ajuntamentos familiares. É assim desde que me lembro. Um pouco a fazer lembrar os filmes de Almodóvar. Na nossa família, os homens também são poucos para desgosto de alguns. Quase só nascem filhas! Durante o almoço conclui, como sempre, que prefiro ser cremada e que atirem as minhas cinzas ao mar ou num carvalhal já velho.

Almoço terminado e foi todo o mundo para o "Lopes" beber café. Tudo isto num dos bairros antigos de Benfica (Lisboa). O café, esse não se chama "Lopes", mas para esta família o dito estabelecimento será sempre o "Café do Lopes".

Compras de miúdas

Depois do café, decidi que precisava de cuecas novas e pus-me a caminho do Colombo – imagine-se que local mais triste para passar o resto da tarde de Domingo!! Fiz-me acompanhar da minha prima mais nova – 12 anos – e enfeiticei-me de adolescente. Partilhámos os phones do walkman dela e ouvimos meia dúzia de vezes a mesma música pirosissíma – também muito sofrida –, de uma dessas cantoras que é famosa sabe-se lá como.

Lá fomos em busca das ditas peças de roupa interior. Depois de muito palmilharmos o centro comercial mais insuportável da capital, lá encontrei mais ou menos o que queria – porque será que é tão complicado conseguir tudo branquinho, sem risquinhas, sem bordadinhos, confortável…? Enfim... Apaixonei-me por umas calças cinzentas giríssimas e por um cascol às risquinhas de muitas cores. Perdi-me, claro!

Deixei-me ir a lojas que nada têm a ver comigo para dar espaço à R. Os gostos não poderiam ser mais diferentes, com excepção do encanto pelos All-Star. Ela acha que são super-fashion e super-modernos! Tive que lhe explicar que agora se paga uma fortuna para já se comprarem russos e a malta da minha idade ia para o mar com eles e depois dava-lhes uma esfrega com areia. O efeito era o mesmo e era gratuito. Os últimos All-Star que tive foram comprados há anos e anos e os mais giros que já vi. Eram de flanela e tinham um padrão aos quadrados com riscas pretas e verdes. Agora tenho uns da Caterpillar. Também estão russos, são bem mais giros que os originais e estão quase a romper-se como manda a Moda! ;-)

No fim, voltei a enfeitiçar-me de dadolescente e aos tempos da faculdade dos biólogos e comprei uma echarp magnífica numa banca indiana. Ofereci à R. uma fita para o cabelo à moda hippie. Metemo-nos no carro, partilhámos os phones, ouvimos mais três vezes a música pirosissíma da tal cantora hiper-famosa que se ouve a toda a hora na RFM e desgraçadamente para a R. ainda cantei, tal cana rachada…

Gosto de me armar em adolescente, gosto de compras de miúdas, de conversas de miúdas e de rir às gargalhadas. A minha prima não foi nada chata, ao contrário do que seria de supor, e diverti-me nesse Domingo chuvoso.

À noite voltei a casa, à vida serena que escolhi para mim, às conversas de miúdas adultas, ao chá ao deitar e à música de Michael Nyman do filme “O Piano” …